Media e modernidade: uma bela desarrumação de instituições
Resumen
Este artigo passa em revista o contributo das instituições de media para a modernidade e para os seus arranjos institucionais mais amplos. Nele se reflete sobre o modo como esta relação tem sido normalmente concebida, até mesmo mitificada, e a seguir, na segunda parte, discute-se como as instituições a que agora designamos “media” estão, potencialmente, a romper, ou mesmo a desarrumar, os arranjos da modernidade de uma forma profunda. O artigo sugere que, sob condições de crescente complexidade e de uma competição de mercado radicalmente transformada, o conjunto de mudanças das instituições a que chamamos “media” exige uma reinterpretação extensa de como “funciona” a modernidade em situação de concentração institucional. A primeira secção passa em revista de forma esquemática o papel assumido pelas instituições de media (imprensa, rádio, televisão, cinema, mas também media infraestruturais como o telégrafo) no desenvolvimento institucional da modernidade a partir de final do século XVIII, ao estabilizarem a circulação de informação e ao contribuírem para a liberdade associada à modernidade, mas ao mesmo tempo instalando neste âmbito um “mito do centro mediado”. Na segunda secção iremos discutir como este arranjo tradicional entre media e modernidade está neste momento a ser posto em causa. Esta situação vai além da globalização da modernidade e da complexificação das paisagens da cultura em resultado da compressão dos media e do espaço-tempo. É uma questão, mais profundamente, de alteração das condições de existência das instituições dos media e da sua capacitação para “centralizarem” os fluxos de comunicação. Hoje, as comunicações estão a tornar-se centralizadas menos devido à produção e circulação de conteúdos de media (financiados pela publicidade com base em audiências ou por apoios estatais) elaborados em/a partir de centros globais/nacionais no conjunto do domínio social, e mais pelo incentivo de interações simbólicas para/a partir de onde quer que seja num espaço de informação global (a internet e todo o aparato que a rodeia), financiado pela recolha e venda de dados “derramados” e gerados por essas mesmas interações. O resultado provável, paradoxalmente, é uma crescente desestabilização de muitas das instituições tradicionais da modernidade e a normalização da falta de liberdade por via de uma vigilância permanente, que põe em causa a legitimidade de arranjos institucionais dos quais, convencionalmente, tem dependido a modernidade.
media; modernidade; mito; legitimação; a internet; dadificação; vigilância
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