Media e modernidade: uma bela desarrumação de instituições

  • Nick Couldry London School of Economics and Political Science

Abstract

Este artigo passa em revista o contributo das instituições de media para a modernidade e para os seus arranjos institucionais mais amplos. Nele se reflete sobre o modo como esta relação tem sido normalmente concebida, até mesmo mitificada, e a seguir, na segunda parte, discute-se como as instituições a que agora designamos “media” estão, potencialmente, a romper, ou mesmo a desarrumar, os arranjos da modernidade de uma forma profunda. O artigo sugere que, sob condições de crescente complexidade e de uma competição de mercado radicalmente transformada, o conjunto de mudanças das instituições a que chamamos “media” exige uma reinterpretação extensa de como “funciona” a modernidade em situação de concentração institucional. A primeira secção passa em revista de forma esquemática o papel assumido pelas instituições de media (imprensa, rádio, televisão, cinema, mas também media infraestruturais como o telégrafo) no desenvolvimento institucional da modernidade a partir de final do século XVIII, ao estabilizarem a circulação de informação e ao contribuírem para a liberdade associada à modernidade, mas ao mesmo tempo instalando neste âmbito um “mito do centro mediado”. Na segunda secção iremos discutir como este arranjo tradicional entre media e modernidade está neste momento a ser posto em causa. Esta situação vai além da globalização da modernidade e da complexificação das paisagens da cultura em resultado da compressão dos media e do espaço-tempo. É uma questão, mais profundamente, de alteração das condições de existência das instituições dos media e da sua capacitação para “centralizarem” os fluxos de comunicação. Hoje, as comunicações estão a tornar-se centralizadas menos devido à produção e circulação de conteúdos de media (financiados pela publicidade com base em audiências ou por apoios estatais) elaborados em/a partir de centros globais/nacionais no conjunto do domínio social, e mais pelo incentivo de interações simbólicas para/a partir de onde quer que seja num espaço de informação global (a internet e todo o aparato que a rodeia), financiado pela recolha e venda de dados “derramados” e gerados por essas mesmas interações. O resultado provável, paradoxalmente, é uma crescente desestabilização de muitas das instituições tradicionais da modernidade e a normalização da falta de liberdade por via de uma vigilância permanente, que põe em causa a legitimidade de arranjos institucionais dos quais, convencionalmente, tem dependido a modernidade.

media; modernidade; mito; legitimação; a internet; dadificação; vigilância

Author Biography

Nick Couldry , London School of Economics and Political Science

Nick Couldry is Professor of Media, Communications and Social Theory at the London School of Economics and Political Science (LSE). His work has drawn on, and contributed to, social, spatial, democratic and cultural theory, anthropology, and media and communications ethics. His analysis of media as ‘practice’ has been widely influential. In the past 7 years, his work has increasingly focussed on data questions, and ethics, politics and deep social implications of Big Data and small data practices. He is the author or editor of 14 books and many journal articles and book chapters.

Published
2019-04-27
How to Cite
Couldry , N. (2019). Media e modernidade: uma bela desarrumação de instituições. Revista De Comunicação E Linguagens, (51). Retrieved from https://rcl.fcsh.unl.pt/index.php/rcl/article/view/39