Tecnicidade originária, animanidade e usos do corpo

  • António Fernando Cascais Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Departamento de Ciências da Comunicação. ICNOVA — Instituto de Comunicação da NOVA, Portugal
Palavras-chave: animanidade, usos, corpo, tecnicidade, tecnoperformatividade

Resumo

Fundamental para entendermos o horizonte generalizadamente “antropofágico” das relações interindividuais, de consumo indiscriminado de tudo e todos por todos, a ideia de “uso dos corpos” mostra ser crucial para a regulação humanista contra o abuso, a instrumentalização e a exploração. Por sua vez, o adquirido da tecnicidade originária, enquanto condição técnica do próprio anthropos, significa que nem corpo, nem linguagem escapam à disponibilidade de todas as coisas na direção indicada pela técnica. Surgindo doravante como grelha de inteligibilidade do mundo e do próprio homem, ela abre a uma teoria crítica pós-humanista da conceção instrumental, protésica da serviçalidade essencial da técnica, ao mesmo tempo que põe em causa que corpo, pertença a um género, desejo ou sexualidade possam ser o locus de resistência às relações de poder-saber tecnicamente mediadas. A animanidade sobre a qual estas operam na era da biopolítica engloba a totalidade sem resto da matéria-prima corpórea a todos os seus níveis, vegetativo, animal, de relação, e projeta-se nas políticas chamadas pós-emancipatórias em que o que está em causa não é já a definição e o exercício de direitos, liberdades e garantias da política iluminista clássica, mas a persecução experimental de modos de vida, de que é exemplo a contrasexualidade tecnoperformativa. A experimental life tecnofílica que funciona no plano da liberdade morfológica, tem, no entanto, implicações políticas decisivas.

Publicado
2023-12-20
Como Citar
Cascais, A. F. (2023). Tecnicidade originária, animanidade e usos do corpo. Revista De Comunicação E Linguagens, (59), 31-51. https://doi.org/10.34619/vlus-bgmh