TY - JOUR AU - Guérin, Michel PY - 2022/07/25 Y2 - 2024/03/28 TI - Da fenomenologia à figurologia JF - Revista de Comunicação e Linguagens JA - RCL VL - IS - 56 SE - Artigos DO - UR - https://rcl.fcsh.unl.pt/index.php/rcl/article/view/207 SP - AB - Segundo Heidegger, a ideia Platónica inicia a viragem representacional da verdade: de modo a aparecer, a verdade necessita de um medium transparente no e através do qual, enquanto se assegura contra a aparência ilusória, ela se mostra adequada à essência. Este lugar-médio, que instaura uma di-stância permitindo o olhar, é simultaneamente um mediador e um intercessor. Aristóteles tematiza tal tertium quid através da categoria enigmática do diáfano.A partir de Kant e da sua distinção entre os fenómenos e os númenos, o meio estético-simbólico, instaurador de uma evidência sensível sustentada pelas categorias, descobre no tempo o agente que irá doravante desempenhar a função do diáfano, orientando a filosofia moderna sob a forma de uma fenomenologia.Mas este secular quadro de pensamento é destruído na segunda metade do século XX. Os pilares sobre os quais o edifício assentava colapsaram: a desconstrução do sujeito, o radical questionamento da objectividade (o que é um objecto na era digital?), a irrupção do “tempo real” (electrónico) — eis alguns dos aspectos corolários das tendências, tão poderosas quanto anónimas, que contribuíram para a ruína do modo fenomenológico do pensamento, baseado no sujeito constituinte (tecido de tempo), e no ideal da evidência assegurada por uma estabilidade obe o ser). O fim dos fenómenos marca o fim de um modo de pensamento analógico.A ideia de figurologia promove uma outra noção do parecer. Para a Figura, a transparência já não é o medium propício à emergência das verdades distintas da ilusão ou do erro. Se o aparecer do fenomenólogo se modela sobre as realidades com contornos distintos (“todos” estético-noéticos), a viragem figurológica põe uma sombria transparência no centro da figura. É uma ficção que rompe com a semelhança. ER -