O “Femonacionalismo” enquanto Violação de Categorias de Identidade: A Face Renovada da Extrema-Direita Europeia

  • Cláudia Álvares Instituto Universitário de Lisboa – Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa/Centro de Investigação e Estudos de Sociologia

Resumo

Partindo do pressuposto de que existe uma tendência para tratar as mulheres de direita como anómalas (Downing 2018), este artigo analisa a recente reapropriação do discurso feminista pela extrema-direita na Europa, com a proeminência de altas figuras políticas femininas como Marine Le Pen, líder do partido francês Le Rassemblement National, Anne Marie Waters, líder do partido anti-islâmico britânico For Britain, e Alice Weidel, co- líder do Alternative für Deutschland (AfD). Defende-se que este discurso “femonacionalista” (Farris 2017) desestabiliza a diluição intersecional de fronteiras entre categorias “oprimidas” (Crenshaw 1989), combinando retórica anti-imigrante e antimisógina, tendencialmente enquadrada de acordo com um princípio organizador antimuçulmano. Ao violar as categorias da política de identidade, segundo a qual a identidade de um indivíduo – seja ela de género, sexual, racial ou baseada em classe – determina a sua preferência ideológica (Downing 2018: 369), as mulheres líderes da extrema-direita estão a contribuir estrategicamente para a reinscrição da genealogia da mobilização feminista, tradicionalmente conotada com uma tradição intelectual e ativista de esquerda.

Uma seleção de comentários de Facebook publicados por Marine Le Pen, Anne Marie Waters e Alice Weidel sobre os acontecimentos de Colónia constituirá o corpus analítico que nos permite explorar a forma como a misoginia é usada para justificar uma política discriminatória que, mais do que abertamente racista, é, acima de tudo, anti- islâmica.

feminismo, extrema-direita, intersecionalidade, misoginia, racismo cultural

Biografia Autor

Cláudia Álvares, Instituto Universitário de Lisboa – Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa/Centro de Investigação e Estudos de Sociologia

Investigadora Principal de quatro projetos de investigação e investigadora de três projetos internacionais de consórcio, Cláudia Álvares integra o European Science Foundation College of Experts. Tem exercido funções de avaliadora, desde 2014, para o European Research Council, Ações Cost, Fundação La Caixa, British Academy, FCT e A3ES. Foi eleita presidente da European Communication Research and Education Association (ECREA) para o mandato 2012-2016. Entre as suas publicações principais encontram-se Media in Europe: New Questions for Research and Policy (co-autoria, 2014), Gendered Transformations: Theory and Practices on Gender and Media (co-autoria, 2010), Teorias e Práticas dos Media: Situando o Local no Global (org. conjunta, 2010), Representing Culture: Essays on Identity, Visuality and Technology (org., 2008), Humanism after Colonialism (2006). Tem publicado nas revistas Feminist Media Studies, Empedocles: European Journal for the Philosophy of Communication, European Journal of Communication, International Commmunication Gazette, Javnost – The Public e The International Journal of Iberian Studies. Doutorada pela Goldsmith’s College, University of London (2001), é professora associada no Departamento de Sociologia do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa.

Publicado
2019-04-27
Como Citar
Álvares, C. (2019). O “Femonacionalismo” enquanto Violação de Categorias de Identidade: A Face Renovada da Extrema-Direita Europeia. Revista De Comunicação E Linguagens, (51). Obtido de https://rcl.fcsh.unl.pt/index.php/rcl/article/view/41