Descolonizar a Visualidade: Olhares, Consciências, Modos de Pensar e Agir
Resumo
Esta edição da RCL propôs-se refletir sobre descolonização da visualidade, a que acrescentámos as palavras “olhares, consciências, modos de pensar e agir” precisamente para assinalarmos a abrangência que o termo visualidade propõe, notando os vasos comunicantes que se estabelecem entre imagens exteriores e imagens mentais interiores, entre pensamentos e ações, entre percepções e representações e o papel desempenhado pelas imagens nos processos de aculturação e interiorização das normas sociais, ou seja, na constituição de subjectividades e formas de sociabilidade. Do mesmo modo, constituem formas de expressão de subjectividades alternativas, participando nas mudanças sociais.
O mundo em que formalmente os territórios colonizados se emanciparam e libertaram é também o mundo onde vários dos seus legados perduram, nas diversas formas de opressão social e ambiental que ainda vivemos, hoje, apesar das muitas melhorias conquistadas pelas democracias, nos lugares onde esta existe.
O espaço de visualidade criado pelo colonialismo funciona como um espaço onírico composto de imagens mentais que mostram, no real, aquilo que não é visível. As imagens e as palavras, através das suas especificidades, foram e são usadas como forças legitimadoras de formas de poder que oprimem e fixam representações sobre comunidades inteiras ou pessoas, cuja imagem e palavra se lhes retira. Perceber e interrogar estes processos, cujo lastro advém do colonialismo histórico, é o foco desta edição. Fazê-lo é também, defender a democracia e a justiça social e ambiental. Esta edição da RCL quer contribuir para esses valores, no momento em que se comemora os quase 50 anos do processo democrático em Portugal (que aconteceu a 25 de abril de 1974).