Corpos de arquivo em Demónios Devotos I-IV de Ayana V. Jackson

  • Julia Stachura
Palavras-chave: corpos de arquivo, Congo colonial, fotografia de estúdio, olhar colonial, mudança decolonial

Resumo

O artigo parte da noção de corpos de arquivo para abordar a série fotográfica Demons Devotees I-IV (2013) de Aya-na V. Jackson. A obra da artista refere-se ao autorretrato de Alice Seeley-Harris com um grupo de crianças congolesas, tirada em 1905, no contexto do regime brutal do rei Leopoldo II. As fotografias de Seeley-Harris, vistas a partir da perspectiva dos estudos pós-coloniais e decolo-niais, levantam uma importante questão sobre o poder das imagens de África e a sua existência na memória coletiva do Ocidente. Nesse contexto, proponho ler o conceito de corpos arquivísticos como corpos liminares, onde reside a dinâmica de poder e a carga histórica da representação. A prática artística de Jackson é um exemplo de ponte entre os dois registos, para desconstruir o olhar colonial em di-reção à mudança decolonial e à possibilidade de desafiar as narrativas centradas no ocidente e centradas na bran-quitude. Jackson cria uma história visual sobre empodera-mento, feminilidade e negritude, imitando (ou “imitando/chorando”)*1a cultura visual da dor e do desamparo. O ato de rememoração na prática de Jackson é traduzido em vá-rias questões sobre a matriz colonial de poder, de memória coletiva, sobre a sua história e, mais importante, a noção de corpo.

Publicado
2022-12-30
Como Citar
Stachura, J. (2022). Corpos de arquivo em Demónios Devotos I-IV de Ayana V. Jackson. Revista De Comunicação E Linguagens, (57), 128-146. Obtido de https://rcl.fcsh.unl.pt/index.php/rcl/article/view/271