Regimes da Transparência
Resumo
O presente número da Revista de Comunicação e Linguagens procura pensar aquilo que designamos por “regimes da transparência” nas suas consequências ontológicas, estéticas, éticas e políticas. Tal significa que nos iremos deter sobre uma específica constelação de dispositivos e subjectividades, determinante nos tempos presentes, que se organiza em torno da noção de “transparência”. Esta, por sua vez, não nos remete para um mero “ideal” a ser realizado por via do progresso histórico, mas sim para uma experiência dirigida e concreta do visível, que se impõe, ainda que de formas diversas, aos indivíduos e colectivi-
dades. Encontramo-nos perante um objecto de relevo para os estudos da comunicação e dos media, uma vez que o transparente pode assumir as formas do público e do imediato, isto é, do que “aparece” aparentemente desprovido da negatividade do segredo ou da mediação — assim se compreende que se denuncie a “forma ideológica” da transparência (Clare Birchall) ou a promessa de um “inferno do igual” (Byung-Chul Han) que esta parece conter. No (suposto) rescaldo de uma pandemia global que legitimou e aprofundou o desenvolvimento de novas leis, técnicas e práticas de visibilidade, urge considerar criticamente a política do transparente, as opacidades que nela persistem e os modos de ver que através dela se reproduzem.
transparência | poder | público | imediação | visibilidade