Modos de descolonizar: o trauma é brasileiro, de Castiel Vitorino Brasileiro

  • Yasmin Zandomenico Universidade de Massachusetts Dartmouth, EUA

Resumo

Este trabalho propõe uma investigação da produção artística e prática clínica de Castiel Vitorino Brasileiro – artista visual, psicóloga e macumbeira – como dispositivo de promoção de cura, crítica da racialidade e reinvenção das memórias do colonialismo. O enquadramento consiste em olhar o colonialismo como fenômeno atualizado e reproduzido incessantemente, enquanto trauma histórico e coletivo, no racismo cotidiano. Falar em trauma, neste caso, é tratar de adoecimentos de sujeitos subalternizados pelo regime de racialização que organiza os corpos (negros e indígenas, no Brasil) entre matáveis e vivíveis. Assim, na articulação entre colonialismo, racismo e os seus modos de mortificação – —ou, em outros termos, de um passado que retorna como ferida aberta ao presente – a obra de Castiel Vitorino Brasileiro se localiza na encruzilhada entre outros modos de subjetivação e descolonização do sujeito, através do cultivo de memórias afro-diaspóricas. Propomos uma análise da obra de Castiel Vitorino Brasileiro como gesto de descolonização epistêmica e insurgência ético-política na contemporaneidade do Brasil, para a qual será mobilizada uma reflexão sobre a produção do corpo negro pelo sistema colonial (Hortense J. Spillers); a redistribuição da violência colonial como autocuidado (Jota Mombaça); os efeitos psíquicos do colonialismo (Frantz Fanon); o racismo cotidiano como trauma colonial (Grada Kilomba); as práticas de mediação e resistência à morte (Achille Mbembe); e a desindentificação como subversão cultural e política (José Esteban Muñoz). O levante de Castiel Vitorino Brasileiro se dá no meneio com que seu corpo escapole da colonialidade que insiste em produzir a racialidade e aprisionar os sujeitos nela identificados. Gozando a liberdade da desobediência com que manipula energias e a violência colonial, a artista, psicóloga e macumbeira produz dispositivos de luta e cura enquanto autocuidado de si e das suas. É principalmente na recriação das memórias, em sua força visionária e subversiva, que o trauma brasileiro é conjurado. Nesse processo, a disrupção do esquecimento tem que ver com a imaginação de uma nova realidade cuja palavra de ordem é libertação e vida.

 

Palavras-chave: Castiel Vitorino Brasileiro; decolonização; cura; trauma colonial



Publicado
2021-07-01
Como Citar
Zandomenico, Y. (2021). Modos de descolonizar: o trauma é brasileiro, de Castiel Vitorino Brasileiro. Revista De Comunicação E Linguagens, (54). Obtido de https://rcl.fcsh.unl.pt/index.php/rcl/article/view/133