Chamada de trabalhos | RCL nº. 59 | Corpos-Media: matérias e imaginários (Fechado)

2023-05-22

Chamada de trabalhos | RCL nº. 59 | Corpos-Media: matérias e imaginários

NOVO Prazo de submissão: 22 de setembro de 2023
Data de publicação prevista: Dezembro 2023

Editoras:
Aida Castro (ICNOVA / I2ADS)
Maria Mire (CICANT / AR.CO)

Corpos-media são corpos de fronteira que operam nos espaços-intervalo. São corpos que se definem e se materializam, ganham e instalam corpo nas travessias e que, por isso mesmo, se abrem às práticas dos imaginários. Corpos-media demonstram as suas experiências e as suas linguagens específicas: são a sua própria mediação e o seu próprio ensaio e podemos dizer que isto surge na corporização das materialidades que convocam, evocam ou mesmo naquelas que circulam e imaginam nos atravessamentos.

Vibrará (n)um corpo-media a latência da sua própria temporalidade? O cyborg, tal como apresentado por Donna Haraway (1985) no seu conhecido manifesto, seria então um corpo-media de excelência, um arquétipo moderno. Este corpo, mesmo que obsoleto, é ainda uma figura que permite pensar as materialidades da sua aparição, articuladas com as operações das linguagens dessa mesma corporização: interessa a duplicidade e a simultaneidade destes corpos, cheios de atritos e dessincronizações nas experiências e na experimentação dos limites. Corpos-media são então problemáticos por situarem um espaço-entre e por corporizarem as suas políticas mediais.

No campo das práticas artísticas estes corpos-media instalam-se frequentemente na experimentação poética relacionada com as tecnologias que atravessaram todo o século XX e se expandiram para o século XXI, sobretudo se percebermos, nas travessias e nas imersividades dos dispositivos imagéticos, a aparição dos fantasmas que daí se projetam. Numa perspectiva arqueológica, a visualização de aparições espectrais foi explicada pelo pensamento racionalista a partir de dois eixos distintos de argumentos. Um que identifica a sua natureza técnica, dando-a como o resultado de um efeito ilusório produzido por um dispositivo óptico, com uma presença concreta mesmo que diáfana. E outro, como nos diz Terry Castle (1995), que assume que ela é alternativamente uma produção fantasmática da mente, originária de uma realidade psíquica desordenada, que nos persegue enquanto sujeitos atormentados.

A sensação perturbante que emerge da opacidade sobre os modos de produção de alguns destes corpos-media não radica na ocultação dos meios técnicos para ampliar o impacto da aparição fantasmagórica, como acontece durante os séculos XIX e XX. Mas sim do facto de esta névoa, que obscurece as relações de produção, não ter uma razão alquímica ou científica, mas servir lógicas corporativas e alimentar a abstração produzida por uma classe vectorial, como diz Mckenzie Wark no seu manifesto hacker (2004).

Os fantasmas, enquanto corpos-media, continuam a perpetuar o confronto entre matéria e imaginário, e topologizam de modo cirúrgico esse choque. Mas quais corpos-media estão a ser projetados? Que matérias produzem estes corpos e que imaginários se reclamam? Na atualidade a presença de novos e mais corpos, parecem expropriar metodologias artísticas e arquivistas experimentais para alimentar, por exemplo, os modus operandi de redes neurais.

Esta edição da RCL está aberta a contribuições, a partir dos seguintes tópicos:
• Corporalidades imaginadas nas práticas artísticas.
• Corpos fantasmas, ectoplasmas, corpos holográficos.
• Práticas dos imaginários e poéticas pós-humanas.
• Hibridismos nas práticas e nas metodologias artísticas.
• Arqueologia dos media e novas obsolescências.
• Pós-humanismo crítico; pós-binarismo; pós-digital; pós-cyborg: críticas às corporações digitais.
• Práticas indisciplinares, mutações e manifestos: artísticos, políticas corporizadas.
• Pensamento crítico em torno da produção visual gerada através de inteligência artificial (IA).
• Presença e imersividade: na arte contemporânea e/ou em projetos de realidade virtual (RV).


Os artigos podem ser escritos em inglês, francês, espanhol ou português e serão submetidos a revisão cega por pares (blind review). Ensaios visuais serão aceites e encorajados para submissão. Também serão aceites propostas para recensões críticas de livros pertinentes para o contexto deste número. A formatação deve estar de acordo com as normas de submissão da revista (consultar), e a submissão deve ser feita via plataforma OJS até 22 de setembro de 2023.

Orientações para submissão e instruções:
Gerais: https://rcl.fcsh.unl.pt/index.php/rcl/about/submissions

Formato dos Ensaios Visuais:

Até 12 páginas, o ensaio poderá ser inteiramente visual ou combinar imagem e texto. Neste caso, o texto não deve exceder as 500 palavras. Pode, adicionalmente, incluir um resumo até 300 palavras e 5 palavras-chave, devendo, neste caso, obedecer às normas definidas para resumos. Se for incluído um resumo, este deve ajudar a compreender o ensaio e a sua pertinência em relação ao tema. Isto é especialmente importante para o caso dos ensaios que usem apenas imagens. O elemento visual do ensaio deve ser parte integrante do argumento ou das ideias expressas e não servir como exemplo ou ilustração. Nos ensaios visuais deve ser dada particular atenção à paginação das imagens/textos. A submissão deve incluir um ficheiro PDF com paginação sugerida para 17×24,5cm 300 ppi.
(informação útil: https://catoolkit.herts.ac.uk/toolkit/the-visual-essay/)

No documento de submissão colocar o nº de edição RCL 59, assim como a referência aos tópicos que responde.

Para outras informações contactar as editoras Aida Castro e Maria Mire [modo.cruzado@gmail.com]
Esta edição participa do projecto a decorrer: (de)MONSTRAS: imaginários, corporalidades e materialidades anfíbias. ICNOVA/UIDB/002/2022/ deMo. 

Este trabalho é financiado por Fundos nacionais através da FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito do projeto Refª: UIDB/05021/2020.