Chamada de artigos | RCL nº 55 | Novos Media Habituais"| 30 de maio de 2021 (Fechado)

2021-03-06

RCL: Chamada de Trabalhos | "Novos Media Habituais"
Editores:  Madalena Miranda (ICNOVA) e Ilo Alexandre (ICNOVA)

“O que significa quando os media passam do conceito de novo para o de habitual — quando os nossos corpos se tornam eles próprios arquivos media, supostamente obsoletos, onde se instalam o streaming, as actualizações, as partilhas, as cópias?”

Wendy Hui Kyong Chun, em Updating to Remain the Same (MIT Press, 2016), argumenta que os nossos media “se tornam mais importantes quando parecem não ter importância nenhuma — quando passam do ‘novo’ para o habitual”. Tecnologias como os smartphones já não nos causam estranheza, foram absorvidos nas nossas vidas de forma a que “nos tornamos nós as nossas máquinas: transmitimos ao vivo, atualizamos, captamos, partilhamos, ligamos, salvamos, apagamos e rastreamos”(da introdução).

Chun vê esta incorporação das redes sociais nos nossos hábitos como um conceito definidor da actualidade. “As redes têm sido centrais para o surgimento do neoliberalismo, substituindo a ‘sociedade’ por agrupamentos de indivíduos (...) O hábito é central para a inversão da privacidade e da publicidade que impulsiona o neoliberalismo e as redes”(intro.). É nesse jogo que, por exemplo, o trabalho artístico de Natalie Bookchin expande as expressões individuais que dão corpo a essa paradoxal exposição íntima no fluxo digital visual.

A questão do “habitus”, enquanto conceito como Pierre Bourdieu o coloca, num contexto social mais geral, pressente e consolida a influência e a complexidade dos media nas nossas vidas, tomando-os tão omnipresentes como quase involuntários. Roland Barthes, perante a fotografia, na sua ideia da invisibilidade do significante, revela também um pouco uma noção de “hábito”. Pedro Miguel Frade em “As Figuras do Espanto”(ASA,1992) relembra-nos um momento em que a fotografia era ainda uma tecnologia que causava estranheza, onde pensar “a modernidade do olhar” era também um “efeito continuado e cumulativo”(p.7) do que tende a permanecer obscuro. As tecnologias culturais podem ser paradoxalmente surpreendentes quando vistas da perspectiva da novidade ou da persistência.

A consciência coletiva do poder político das novas tecnologias “habituais” precipitou há dez anos os primeiros movimentos sociais digitais do século XXI, como as “Primaveras Árabes”, o “M12M” em Portugal, o "Movimiento 15M" em Espanha, ou “Occupy WS Movement” a partir de Nova York, nos E.U.A.(Castells, 2013). Os smartphones, os “internet cafés” conectados com redes sociais espalharam tweets, imagens e vídeos no YouTube, a partir de estruturas participativas, tornando-as políticas e desestabilizando uma ordem global com os seus protestos. Estes movimentos surpreenderam e libertaram práticas digitais, como na reactivação do conceito de “vernacular” de Ivan Illich (Illich, 1980), por Peter Snowdon em “The people is not an image - Vernacular Video after the Arab Springs” (Verso Books, 2020) que marcaram um momento da História recente digitalmente mediada. Desde essa altura, as paradoxais vidas digitais evoluíram e os “novos media habituais” complexificaram-se.

No entanto, com o momento pandémico, os modos contemporâneos de existência fizeram emergir tais mediações como globalmente evidentes. As fragilidades expostas na vida real e orgânica aparecem agora mediadas na coexistência, mas também na comunicação e até na hipótese de contacto, através da existência digital, pela mediação tecnológica dos “novos meios habituais”. No contexto da pandemia, a “vida no écran” torna-se o cânone da existência contemporânea.

Este número procura recolher contribuições sobre:

  • mediações dos “novos media habituais”, com foco no individual ou no pequeno colectivo, que se relacionam com esta perspectiva da intimidade digital no contemporâneo;
  • perspectivas no âmbito das Teorias dos Media sobre a relação entre progresso e obsolescência das tecnologias culturais ou reflexões sobre as redes digitais e o seu impacto na reprodução de sistemas de controle ou na criação de movimentos de resistências e solidariedade;
  • perspectivas críticas sobre o impacto do actual contexto pandémico nos media culturais e mediações, no âmbito dos Cultural Analytics. (Manovich, 2020).
  • análises destes temas em diferentes segmentos e comunidades, particularmente em minorias e/ou grupos vulneráveis, ou projetos digitais de superação neste contexto;
  • perspectivas históricas sobre media culturais e as suas relação com o conceito de “hábito” e/ou progresso, como a fotografia, o cinema, tecnologias sonoras, ou outras, e os momentos de “tensão entre medias”;
  • práticas artísticas e criativas que abordem estes contextos, nas artes visuais, cinema, mas também artes sónicas, multimédia ou web;
  • etnografias digitais sob estas temáticas, com foco nas experiências online.
  • perspectivas recentes dos diferentes movimentos sociais digitais de 2011, das suas mediações e dos seus impactos mas também de movimentos recentes, igualmente ancorados online, como o #metoo ou #BLM, ou #XR, Extinction Rebellion e as suas expressões digitais ou artivistas.

Os artigos podem ser escritos em inglês, francês, espanhol ou português e serão submetidos a revisão cega por pares. Também serão aceites ensaios visuais. A formatação deve ser feita em conformidade com as diretrizes de submissão da revista e a submissão feita através da plataforma OJS até 30 de Maio de 2021.

Para consultas, contacte com a editora Madalena Miranda: (miranda.madalena@gmail.com).

Diretrizes para submissão e instruções para autores: 

Formato dos ensaios visuais:

Até 12 páginas. O ensaio poderá ser inteiramente visual ou combinar imagem e texto; o elemento visual do ensaio deve ser parte integrante do argumento ou das ideias expressas e não servir como exemplo ou ilustração dos mesmos. A submissão deve incluir um texto introdutório (150-300 palavras) que se integre conceptualmente com ensaio e a sua pertinência no âmbito do tema. Deve ser dada particular atenção à paginação das imagens/textos, pelo que o ensaio deve ser acompanhado de um ficheiro PDF com paginação sugerida para 17×24,5cm e resolução de 300ppi.

(informação útil: https://catoolkit.herts.ac.uk/toolkit/the-visual-essay/)